Paz.

Ao sair do mundo, Ele disse: “...Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz ... Não se perturbe o vosso coração, nem tenhais medo...” (cf. João 14, 27). Ao carregar com a Cruz, podemos dizer que Cristo trouxe uma mensagem de paz entre Deus e o mundo. De facto, ‘com o sangue da sua Cruz, pacificou’ (cf, Col. 1, 20) o criador e a criatura.  

Por isso, ressuscitando, traz - como dom da ressurreição e dom pascal – a paz à Sua Igreja.

Estes dons de Jesus, nosso Senhor, são para todos, ainda hoje.

Ele pede-nos para estarmos em paz com Deus; em perfeita paz com Deus. Sabemos que a paz – segundo a clássica definição de Santo Agostinho – ‘é tranquilidade da ordem’; sabemos, também, que há ordem onde cada coisa está no seu lugar; sabemos que Deus está no Seu lugar, em cada lugar; sabemos, portanto, que em cada lugar está Deus...Que Deus, então, está em nós: está em todos os lugares onde nós estamos: na mente, na vontade, nos sentidos; ocupa - sozinho e totalmente – a nossa vida.

Pede-nos para estarmos em paz com o próximo: dando, acima de tudo, ao próximo o que ele tem direito (e será um exercício de justiça); dando, também, o que lhe podemos dar (e será um exercício, porventura, heróico, de amor).

Este é o mandamento cuja observância levará os homens a reconhecerem que somos discípulos de Jesus (cf. João 13, 34).

Ele pede-nos para estarmos em paz com nós mesmos; pede-nos que, em nós, haja paz, isto é, a tranquilidade da ordem; pede, portanto, que cada um dos nossos componentes esteja no seu lugar, a exercer a sua função; pede-nos que as paixões estejam submetidas à razão e a razão à fé; pede-nos que as ‘exigências’ do corpo estejam subordinadas às da alma e as exigências da vida humana estejam subordinadas às da vida divina. Esta subordinação – exactamente porque põe ordem em nós – dá-nos a paz e a verdadeira liberdade. Porque assim se é ‘servo de Cristo’ para quem ‘servir é reinar’.”

                                                                       (Cartas Simples, vol. 7)