Natal 2023.

Nos 800 anos do Presépio montado por São Francisco, em Greccio, momento forte da sua vida, convém não esquecer que representações esculpidas e pintadas são muito antigas. Embora as primeiras representações de Maria com Menino, Profeta e estrela, bem como dos Magos, sejam de pinturas das catacumbas de Priscila, a partir do século IV o tema surge nos sarcófagos, como no da imagem acima (Museus Vaticanos). Trata-se de um baixo-relevo, datado de 320-325. A cena aparece em lugar secundário, na tampa do sarcófago. Impressiona ver esta cena simples, mas terna e bucólica. O ambiente campestre é assinalado por uma palmeira e um pastor que medita, apoiado num bastão e estende a direita aberta para o Menino. Um telhado rústico abriga o Menino

O Menino, colocado numa manjedoura tecida de folhas, está envolvido por faixas como uma múmia e assim foi representado por séculos. Sobre Jesus, duas cabeças: a do boi e do jumento. Ao lado, o Menino é venerado nos joelhos de Maria, sentada numa cátedra. Acolhe os presentes dos três Magos, que deixam entrever os focinhos dos camelos que os transportaram de terras longínquas.

Falta nestas primeiras representações a figura de José, que segundo o protoevangelho de Tiago teria ido à cidade procurar uma ama.

A presença dos dois animais, dos quais os Evangelhos nada dizem, é mencionada no Evangelho de Pseudo-Mateus, datável do século V: “No terceiro dia do nascimento do Senhor, a Bem-aventurada Maria saiu da caverna e entrou no estábulo onde colocou o menino numa manjedoura e o boi e o jumento o adoravam. Então foi cumprido o que disse o profeta Isaías (1,3): O boi conhece o seu dono e o jumento o estábulo do seu possuidor (c. XIV). O citado Evangelho transmite uma tradição existente. Os dois animais seriam representativos, segundo a literatura dos escritores dos primeiros séculos, como já Orígenes (In Lucam Homilia XIII). O boi é o povo de Israel que levou o jugo da lei e o jumento, animal de carga, é o povo dos pagãos, carregando os pecados da idolatria. Destes dois povos nasce a Igreja. Também poderia ter influído a profecia de Habacuc (3,2) ao dizer: No meio de dois animais te manifestarás.

O mistério do boi e do jumento é uma bela mensagem, são todo o povo de Deus: Igreja dos judeus e igreja dos outros povos. A presença dos próximos pastores e dos longínquos magos afirma e reforça a mesma ideia de salvação universal.

São Francisco, ao valorizar estes animais, na sua montagem de há 800 anos, estava a sublinhar, após a sua experiência com o sultão Al-Kamil do Egito, que o Menino veio para todos: hebreus (boi) e muçulmanos (jumento). Havia que substituir a cruzada pela comunhão.

Que esta festa de luz, na escuridão da nossa vida e do mundo, nos mova para uma fraternidade universal. A pobreza do espaço do nosso coração ferido é visitado pela Salvação.

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A Ceremony of Carols | B. Britten.

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