A Ceremony of Carols | B. Britten.

Incontestavelmente o maior compositor inglês de meados do século XX, Benjamin Britten (Lowestoft, 1913 – Aldeburgh, 1976) distinguiu-se particularmente pelas suas obras corais (A Boy Was Born, A Ceremony of Carols, Spring Symphony), canções, óperas (Peter Grimes, The Turn of the Screw) e pelo seu War Requiem. Além disso, foi também um maestro e pianista dotado.

A obra coral A Ceremony of Carols, op. 28 foi composta entre março e abril de 1942, enquanto Britten cruzava perigosamente o oceano Atlântico de regresso a casa, depois de uma estadia de três anos nos Estados Unidos da América (para onde fugiu após a eclosão da 2.ª Guerra Mundial, em 1939). Desta viagem resultaram duas importantes obras, A Ceremony of Carols e Hymn to Saint Cecilia, as quais se caracterizam pela combinação de uma técnica amadurecida, uma paleta sonora requintada, uma frieza modernista na expressão com uma abundante oferta de intensidade emocional, uma linguagem musical que se distingue simultaneamente pelo seu carácter pronunciado como também pela sua contenção.

A Ceremony of Carols é uma obra para 3 vozes agudas e harpa. A versão original de 1942 foi escrita para SSA (Soprano 1, Soprano 2, Alto) e harpa; em 1948, Julius Harrison publicou um arranjo para SATB (Soprano, Alto, Tenor, Baixo) e harpa/piano.

Em Halifax (Nova Escócia), Britten comprou uma cópia de The English Galaxy of Shorter Poems, editada por Gerald Bullett, cujos poemas serviram de inspiração para escrever os textos destas canções. De facto, este volume contém 5 dos poemas que aparecem na obra musical (n.º 3, 5, 6, 8 e 10).

Salienta-se que, após o seu regresso a casa, Britten substituiu a canção da planície Procession/Recession (n.º 1 e 11) pelo original Hodie Christus natus est; todavia, a música do número descartado foi usada para uma nova canção: Wolcum Yole! Nesta altura, Britten adicionou mais uma canção: Spring Carol (No. 9). Esta foi a estrutura da primeira execução desta obra, ou seja, sem o andamento That yonge child (n.º 4a) e sem o interlúdio de harpa (n.º 7).

Em 1943, antes da publicação da obra, Britten acrescentou os números 4 e 7, além de prever que o piano fosse usado em vez da harpa, quando necessário. Esta versão final foi cantada pela primeira vez pelo Morriston Boys' Choir, regido pelo próprio compositor, com Maria Korchinska na harpa. A estreia teve lugar no Wigmore Hall, em Londres, a 4 de dezembro de 1943.

Segue-se a Estrutura Final com todos os andamentos e respetiva descrição breve:

1. Procession – Procissão "Hodie Christus natus est", uma antífona gregoriana cantada em uníssono; consiste numa autêntica procissão de entrada cujos últimos 2 compassos (Aleluia) se repetem até as coralistas chegarem aos seus devidos lugares.

2. Wolcum Yole! – Canção alegre e festiva que pretende dar as boas-vindas aos dias importantes: Yule (25), Dia de Santo Estêvão (26), Dia de São João (27), Dia dos Inocentes (28), Thomas Becket (29), Novo Ano, Décimo Segundo Dia, Candelária (2 de fevereiro). O texto está escrito em inglês medieval.

3. There is no Rose - Apresenta um tom mais reverente do que o andamento anterior, uma vez que o coro admira a beleza do nascimento de Jesus. Os sopranos e contraltos cantam a melodia de maneira suave e orante, enquanto o resto do conjunto ocasionalmente se junta a eles para cantar em uníssono. Esta é uma canção macarrónica, isto é, o texto tanto está em língua vernácula (inglês, neste caso), tanto está em latim.

4a. That yonge childSolo de soprano com acompanhamento de harpa. O tom reverente da canção anterior é transferido para esta, exceto que esta é mais recitativa.

4b. BalulalowCanção de embalar para o menino Jesus. O solo de soprano no início deste andamento pinta uma imagem da Virgem Maria cantando uma canção de embalar para seu filho recém-nascido.

5. As dew in AprilleMuda o foco do bebé para a Virgem Maria. A música fica progressivamente mais suave até ao final. Ao longo deste andamento, as diferentes partes da voz sobrepõem-se para criar efeitos de eco. A dinâmica do coro altera abruptamente no final de pianíssimo para forte.

6. This little Babe - Contrasta com todos os outros andamentos numa abordagem mais sombria, usando muitas vezes imagens do inferno. Retrata uma batalha entre Jesus e Satanás (o bem e o mal), a qual é transmitida por ritmos rápidos, polirritmias, motivos sobrepostos entre as vozes e progressivos crescendos ao longo do andamento. A música atinge o seu clímax com uma intensa mudança de tonalidade.

7. Interlude – Solo de harpa, criando uma sensação de felicidade angelical em andamento lento, ritmo mutável e natureza progressivamente suave.

8. In Freezing Winter NightInvoca as circunstâncias do nascimento de Jesus e emprega o coro para cantar em círculo a fim de criar um efeito de eco. O coro e a harpa progridem em ritmos contrastantes e, ao longo do andamento, sincronizam-se gradualmente até que ambos se movam no mesmo ritmo pouco antes do final. Isto pretende simbolizar a discórdia na terra antes e durante o nascimento de Cristo bem como a esperança do futuro e a harmonia que ele traz.

9. Spring Carol – Dueto entre duas sopranos que retrata os sinais da primavera. Este andamento termina com um chamamento para agradecer a Deus, transitando apropriadamente para o próximo e último andamento.

10. Deo GraciasBritten preparou o coro de tal forma que este se tornou enfático nos seus agradecimentos a Deus. O uso de ritmos sincopados e staccatos enfatiza essa gratidão energética, enquanto apenas uma pequena seção narra muito silenciosamente a situação da humanidade. A harpa e o coro tornam-se gradualmente mais sonoros até ao último acorde.

Sugestão de interpretação:

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