“Há guerra” de Luísa Sobral.

“DanSando” é o novo álbum de Luísa Sobral, uma das cantoras-compositoras portuguesas que mais admiro, e que foi descrito como “um trabalho íntimo e pessoal, mas também socialmente consciente e implicado”.

Entre músicas luminosas e que nos falam de amor e desamor, há outras músicas que nos inquietam, desinstalam, fazem-nos questionar sobre como nos posicionamos sobre os fraturantes acontecimentos sociais e políticos que estamos a viver globalmente.

Em “Serei sempre uma mulher”, Luísa Sobral sublinha a questão tão atual da repressão sobre as mulheres no Afeganistão e no Irão, remetendo-nos para os acontecimentos trágicos mais próximos que vitimaram a jovem curda Mahsa Amini, e para a onda de indignação e solidariedade que se gerou por todo o mundo.  

“Grito mesmo que rouca / Que debaixo da roupa / Serei sempre uma Mulher.

E quando eu sozinha sou perigo / Mas quem tem medo sou

Quando a beleza é o inimigo / Mas quem a inventou foi Deus

Não, não me vais ver chorar /Vou lutar até ao fim

E se não for para mim /Seja para quem vier”.

Num outro tema, “Há guerra”, Luísa Sobral põe-nos debaixo de fogo, para nos situar num “aqui tão longe” e nos confrontar com a nossa crescente indiferença pelo atual conflito na Ucrânia, “a deixar-me ficar a ver”.

As sirenes que nos avisam sobre um iminente ataque aéreo calam fundo, apanham-nos desprevenidos, transportam-nos para o lugar onde o conflito está a acontecer.

E lá chegados, “mesmo sendo dia, noite ficou / e o mundo parou, para ver / estrondos que se sentem debaixo dos pés / gente que se apaga de uma vez / e eu aqui tão longe / deixo-me ficar a ver / há guerra na televisão / os velhos e os novos de armas na mão / há guerra e eu a cantar / a deixar-me ficar / a deixar-me ficar a ver”.

“Gente que foge sem destino / Sem nada fazer são o inimigo”.

A insensibilidade perante o doloroso quotidiano de quem não está perto, desumaniza-nos. Possa a música continuar a despertar-nos para a urgência do agora, para a urgência de tudo fazer para que se calem as injustiças e para que a paz seja uma realidade construída por todos.

A Arte pode, de facto, despertar-nos para nos tornarmos socialmente mais conscientes e consequentemente mais implicados na construção de um mundo mais justo, mais generoso, mais inclusivo e mais compassivo.

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