A Assembleia Sinodal: uma Igreja sempre a Caminho.

A XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos «Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão» iniciou o seu percurso, no dia 9 de Outubro de 2021, com um momento de reflexão em que o Papa Francisco exortava a concentrarmo-nos nas três palavras-chave deste Sínodo – comunhão, participação e missão – que, segundo ele, «são expressões teológicas que designam o mistério da Igreja». Este caminho sinodal abriu com a fase diocesana que se traduziu num processo de escuta de toda a Igreja. A Igreja Sinodal é a Igreja da escuta, onde juntos nos colocamos a caminho, para discernir quais os desafios que o Espírito Santo coloca à Igreja no contexto social e cultural contemporâneo. Escutar juntos a voz de cada homem e de cada mulher, para aí sentirmos e escutarmos a voz de Deus e escutar juntos a voz de Deus que nos desafia à missão: «escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama» (Papa Francisco).

Esta fase terminou com a elaboração de uma síntese diocesana, que foi apresentada à Conferência Episcopal, para que fosse elaborada uma síntese nacional. As várias sínteses de cada país serviram de base para a elaboração do Documento para a Etapa Continental. Reunida em sete assembleias continentais – Europa (CCEE), América Latina e Caribe (CELAM), África e Madagáscar (SECAM), Ásia (FABC), Oceânia (FCBCO), América do Norte (EUA e Canadá) e Médio Oriente (especificamente a contribuição das Igrejas Católicas Orientais) – a Igreja caminhou na variedade e comunhão das Igrejas. Tive a graça de participar online na Assembleia Continental para a Europa e verificar como, apesar de caminharmos em geografias diferentes da mesma Europa, somos habitados pelo mesmo desejo de levar Jesus a todos, nos diferentes contextos sociais e culturais e partilhando tantas dificuldades e desafios comuns.

A partir das sete sínteses da etapa continental foi elaborado o Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho) para a Assembleia que reuniu em Roma de 4 a 29 de Outubro. A assembleia sinodal em Roma era constituída por 442 pessoas: 365 eleitores, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria Geral do Sínodo e 57 peritos, entre os quais 20 são mulheres, cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases.

São várias as diferenças que têm sido apontadas a este percurso sinodal relativamente aos anteriores. Isto deve-se essencialmente ao modo como o Papa Francisco perspectiva a sinodalidade. Na verdade, o Sínodo dos Bispos nasce como tal: um lugar onde a sinodalidade se conjuga com a colegialidade. Contudo, o Papa Francisco pretende com este caminho sinodal que se evidencie que o sujeito de toda a acção eclesial é o inteiro Povo de Deus, na variedade de dons, serviços, carismas e ministérios e que a sinodalidade é uma dimensão constitutiva da Igreja, o seu «modus vivendi et operandi».

A assembleia sinodal iniciou com uma vigília ecuménica, a 30 de Setembro, na Praça de São Pedro, intitulada ‘Together’ (Juntos), a que se seguiu, no dia 4 de Outubro a missa de abertura, presidida pelo Papa Francisco. Para que o protagonista deste caminho sinodal seja o Espírito Santo, este percurso deve ser inscrito num verdadeiro tom orante e, por isso, esta assembleia em Roma este tempo de graça iniciou com um tempo de retiro para todos os participantes, cujas meditações foram orientadas pelos dois assistentes espirituais desta assembleia sinodal: a Madre Beneditina Ignazia Angelini e o dominicano Padre Timothy Radcliffe.

Uma das imagens marcantes deste sínodo foi a imagem das mesas redondas que encheram a Aula Paulo VI. Os participantes, ao contrário dos sínodos anteriores que decorriam numa sala em anfiteatro, concentraram-se em pequenos grupos, partilhando, escutando e fazendo silêncio. Este modo circular de ser Igreja traduz a eclesiologia de comunhão e unidade que somos chamados a construir, na diversidade daquilo que somos e na comunhão que somos chamados a construir. Diariamente o serviço de comunicação do vaticano partilhava o ritmo dos trabalhos em conferência de imprensa, para que nos uníssemos à reflexão e sobretudo à oração por aqueles que tinham a missão de discernir o que o Espírito Santo pede à Igreja aqui e agora. Esta primeira assembleia terminou a 29 de Outubro e publicou uma Carta a todo o Povo de Deus e um relatório de síntese.

A leitura do relatório de síntese permite perceber os pontos de convergência e de consenso, as questões em aberto a enfrentar e as propostas a desenvolver. O que mais me marcou da leitura desta síntese foi perceber que nos sentimos incluídos na reflexão realizada e que as questões levantadas na fase diocesana de escuta estão presentes no caminho percorrido. Deste modo, na assembleia sinodal, esteve lá a vida de cada baptizado com as suas inquietações e desejos, alegrias e esperanças, bem como as suas expectativas e motivações, perplexidades e dificuldades.

O caminho sinodal não terminou! Terminou a primeira assembleia em Roma e no próximo ano haverá uma outra. Agora é tempo de continuar a perguntar ao Espírito Santo o que nos pede aqui e agora, para que juntos, num verdadeiro processo de discernimento saibamos responder com coragem e ousadia aos desafios que o mundo contemporâneo coloca à Igreja.

Esta é a Igreja Sinodal: uma Igreja sempre a caminho em direcção a Cristo, guiada pelo Espírito Santo, configurando a sua vida com o mistério da Cruz do Senhor, para que saiba ser um verdadeiro ícone da Santíssima Trindade, como testemunha da beleza de caminharmos juntos, para dizer a todos que só Jesus é o caminho, a verdade e a vida.        

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