Exortação Apostólica: Laudate Deum.

Como estava anunciado, foi tornada pública em 4 de outubro de 2023, dia da memória de São Francisco de Assis, a Exortação Apostólica Laudate Deum. Importa lembrar que se trata de uma Exortação Apostólica, não de uma Encíclica como a Laudato Sì de 2015 e que a vem completar. Com esta Exortação Apostólica, o Papa Francisco pretende alertar o mundo para a grave crise climática, cujas consequências estão à vista de todos. Vamos tentar sintetizar os seus seis capítulos em 10 pontos:

1.      A indiferença diante de uma situação que se agrava

O impacto da mudança climática prejudicará e afetará a vida de muitas pessoas, quer na saúde, quer no acesso aos recursos e ao trabalho, casa e migrações forçadas (cf. LD 2).

2.      Não se podem relativizar as mudanças climáticas

Por mais que se pretenda negar, esconder, dissimular ou relativizar, os sinais estão à vista de todos e cada vez mais patentes: fenómenos extremos, períodos de calor inusual, seca e gemidos da Terra, terramotos, tsunamis, furacões, etc. Não há dúvida que determinadas mudanças de clima provocados pela humanidade aumentam a probabilidade de fenómenos extremos, cada vez mais frequentes e intensos (cf. LD 5).

3.      Não se pode pôr em causa dados científicos acerca da poluição do ambiente

O Planeta Terra nunca esteve como está agora tão poluído. Dizer que sempre houve períodos de arrefecimento e aquecimento não é cientificamente correto: o que estamos agora a assistir é efetivamente a uma aceleração do aquecimento global com tal velocidade que apenas mais uma geração, tudo pode mudar. O aumento do nível das águas do mar, o derretimento dos glaciares são percetíveis ; Muito provavelmente em poucos anos muitas povoações vão ter de mudar de habitações, porque ficarão submersas (cf. LD 6).

4.      A culpa não é dos países pobres

Com a pretensão de simplificar a realidade, não feita quem diga que a culpa é dos pobres que têm muitos filhos e também pretendem resolver o problema mutilando as mulheres de países menos desenvolvidos. Na verdade, uma percentagem pequena de países ricos contamina mais do que 50% dos países pobres. Como esquecer que África, que alberga mais de metade dos pobres do Planeta é responsável por uma mínima parte das emissões históricas (cf. LD 9).

5.      É urgente a transição ecológica

Se é verdade que a redução dos combustíveis fósseis para formas mais limpas de energia provocará uma redução de postos de trabalho também não é menos verdade que milhões de pessoas perdem o seu trabalho por causa das consequências desastrosas das mudanças climáticas: tanto o aumento do nível do mar como as secas e muitos outros fenómenos que afetam o Planeta deixam muita gente à deriva. Por outro lado, a transição para formas renováveis de energia bem gerida será capaz de gerar novos postos de trabalho em diferentes setores. Isto requer obviamente empenhamento dos políticos e dos empresários nesta questão e sem perda de tempo (cf. LD 10).

6.      Opiniões pouco racionais na Igreja

O Papa queixa-se que inclusivamente na Igreja há pessoas que pensam de modo contrário para reafirmar o que é óbvio: a velocidade das consequências da mudança climática está muito acentuada e não pode ser mais escondida. Estão à vista de todos as consequências de uma intervenção humana na natureza nos últimos séculos (cf. LD 14).

7.      Algumas das consequências da mudança climática são irreversíveis

Algumas das manifestações desta crise são já irreversíveis pelos menos durante centenas de anos como o aumento da temperatura global dos oceanos, a sua acidificação e diminuição de oxigénio. O mesmo se pode dizer do derretimento do gelo dos Polos. As águas dos oceanos têm inércia térmica e são precisos séculos para normalizar a temperatura e salinidade, a qual afeta a sobrevivência de muitas espécies (cf. LD 15).

8.      Estamos a tempo de evitar mais danos

É verdade que não podemos deter os enormes danos já provocados, mas podemos evitar danos ainda maiores e dramáticos (cf. LD 16).

9.      Responsabilidade pela herança que deixamos para o futuro

Se é importante maravilharmo-nos diante das conquistas e maravilhas alcançadas pelo progresso científico e tecnológico não deixa de ser menos importante assumirmos com responsabilidade a herança que deixaremos depois da nossa passagem pelo mundo (cf. LD 18).

10.  É um problema real da humanidade

Deixemos de vez as brincadeiras irresponsáveis que apresentam o tema como algo apenas ambiental, verde, romântico, frequentemente ridicularizado pelos interesses económicos. Assumamos que as mudanças climáticas são um problema humano e social em todos os sentidos. Por isso, é tarefa e missão de todos: está em jogo o futuro da humanidade! (cf. LD).

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