Na Igreja são inevitáveis algumas sombras.

Secularização

Um amigo pediu-me para lhe dizer alguma coisa - breve, clara e exacta - sobre o fenómeno da secularização e sobre as nossas possíveis responsabilidades em relação a ela.

Não é fácil, mas vou tentar.

A secularização é um fenómeno de carácter, ao mesmo tempo, social e cultural. Talvez o mais visível, neste período da história da Igreja.

Secularização, em sentido restrito, significa a tomada de consciência - que o mundo moderno se atribui - da sua autonomia em relação Igreja, à religião e a Deus. Isto significa que o homem encontra, na terra, a resolução dos seus problemas, sem incomodar o Céu.

Fé, padres, o além, transcendência, etc., são marginalizados: o mundo procura caminhar por si só, sem se apoiar em realidades que, apesar de tudo, não nega, mas que deixa no lugar que lhes são devidos.

‘O Homem’, escreveu Bonhoeffer, ‘aprendeu a desenvencilhar-se sozinho em todas as questões importantes, sem recorrer a Deus’.

Quando se diz ‘secularização’ acrescenta-se, quase de imediato, ‘dessacralização’, pela qual o homem não vê as pegadas de Deus, mas só os vestígios do homem. O homem convenceu-se, cada vez mais, de ser o dono da Terra, construtor do seu próprio destino. Não reconhece nenhum sinal de Deus na história que, por isso, é profana e não sagrada.

Nada de ’história da salvação’ como nos exprimimos, hoje. A ciência conhece bem os seus limites; mas, isso não a impulsiona para Deus.  Em vez disso, empenha-se, sempre cada vez mais, nas tarefas terrenas para construir uma sociedade melhor, mais digna do homem.

Não há dúvida de que um certo ateísmo, muito difundido, deriva da secularização. E, por isso, pode ser-lhe, também, aplicado o que de sincero, de leal – ainda que duro, pesante – diz, a propósito do fenómeno do ateísmo, a Constituição Conciliar ‘ Gaudium et Spes’, nº 19: “.... Pelo que os crentes podem ter tido grande responsabilidade na génese do ateísmo, na medida em que, pela negligência na educação da sua fé, ou por exposições falaciosas da doutrina, ou ainda pelas deficiências da sua vida religiosa, moral e social, se pode dizer que antes esconderam do que revelaram o autêntico rosto de Deus e da religião...”

Estes cristãos que escondem e não manifestam o genuíno rosto de Deus somos – digamo-lo, francamente e com profunda tristeza – também nós.

 

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