Retrato - Inocêncio X.

Não sendo uma obra de arte religiosa, apresenta de modo genial uma personagem da igreja. Considerado uma obra-prima no género de retrato, merece um olhar atento. O pintor Diego Velasquez realizou, em 1650, o retrato do papa Inocêncio X (1644-1655), conservado na Galeria Doria Pamphiljj, em Roma. Manteve-se nos bens da família à qual o papa pertencia (Giovanni Battista Pamphili (1574-1655).

Uma tradição afirma que o papa quando viu o seu retrato teria exclamado: “Demasiado verdadeiro”.

Diante desta pintura seja o irlandês Francis Bacon (Screaming Pope), sejam outros grandes nomes inquietaram-se e tentaram captar a força da condição humana. Nesta imagem retrata-se o poder e a miséria. Espelha-se a arrogância do poder, num homem de carater difícil, e adivinha-se a miséria humana. O rosto tem carne sanguínea e os olhos procuram alguma coisa. Há uma indefinição do fundo, uma sombra inquietante, uma indefinição impressionista nas vestes do papa. O vermelho domina a composição e a iluminação apenas evidencia a rosto pleno de vitalidade e a murça plena de reflexos. O espaldar geométrico da poltrona estabiliza a figura papal.

Inocêncio X teve uma carreira nos tribunais da cúria romana, favorecido por familiares, até ser ordenado diácono em 1616. O irmão mais velho casou-se com a famosa Olimpia Maidalchini, viúva aos 18 anos de um rico ancião de Viterbo de quem herdou vasta fortuna. Das segundas núpcias com Pamfilio Pamphilij, nasceram duas filhas e um filho (1622). No jogo da aristocracia romana o futuro papa ficava livre para seguir a carreira eclesiástica.  Em 1621 é nomeado núncio em Nápoles, com relevante serviço administrativo e o papa Barberini (Urbano VIII) chamou-o em 1625 para auxiliar o sobrinho em delegação diplomática em França, como especialista em direito canónico. Apesar do insucesso, seria nomeado para a prestigiada nunciatura em Espanha em 1626, que incluía também Portugal.

Este lugar conduzia à nomeação cardinalícia, a 19 de novembro de 1629. Chega a Roma em 1630 e assume vários cargos nas congregações romanas. Quando morre Urbano VIII o conclave demorou 37 dias, dividido em fações até escolher, por larga maioria, Pamphilij.

Inocêncio X nomeou o sobrinho cardeal e escolheu um secretário de Estado independente de laços familiares. O sobrinho Camilo decide casar-se com Olimpia Aldobrandini em 1647 e deixa o cardinalato. O Papa escolhe um filho de Olimpia, Francesco Maidalchini, com 17 anos para cardeal, garantindo a presença familiar no Colégio cardinalício. A cunhada Olimpia, com diabólica esperteza, exerce enorme influência nas decisões papais.  Atendendo a criticas públicas, Inocêncio afastou do palácio apostólico a cunhada, em outubro de 1650. Esta avara vai deixar o papa sem sepultura por quase dois meses.

A este papa se deve a configuração da atual Piazza Navona, com a fonte dos quatro rios, entregue a Bernini em 1648 e realizada em 1651. A Igreja de Santa Inês foi destinada a capela dos Pamphilij iniciada por Rainaldi e continuada por Borromini em 1653.

Se foi eficaz na reforma da vida religiosa dos regulares, permaneceu no imobilismo diplomático perante a revolução portuguesa de 1640. Aceitou nomear bispos por motu proprio para Portugal, mas a solução não agradou nem a Portugal nem à Espanha. Idêntica incapacidade revelou na solução da Guerra dos trinta anos entre França e Espanha. Crucial no pontificado foi a luta contra o jansenismo.

A prevalência do rigor jurídico muito severo e a inquietação vivida por Inocêncio X são colhidas no retrato psicológico de Velazquez.

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