Oratória de Natal | H. Schütz.

Heinrich Schütz, pintura de Christoph Spätner (ca 1660).

Depois de lecionar, na disciplina de História da Cultura e das Artes, a matéria referente ao compositor barroco Heinrich Schütz (Köstritz, 1585 – Dresden, 1672) e tendo em conta a quadra natalícia que vivemos, a obra Oratória de Natal surgiu como a primeira opção para este texto.

Schütz foi o maior compositor alemão de meados do século XVII, precedendo Johann Sebastian Bach (Eisenach, 1685 – Leipzig, 1750). Depois de iniciar os estudos universitários, Schütz foi enviado para Veneza onde estudou com Giovanni Gabrieli de 1609 a 1612. Posteriormente, de 1617 até ao fim da sua vida, foi mestre-de-capela do eleitor da Saxónia, em Dresden, embora durante a Guerra dos Trinta Anos tenha passado vários anos como maestro da corte em Copenhaga. Retomou o contacto com a música italiana ao deslocar-se a Veneza em 1628. A influência da música italiana é bastante notória na sua produção musical. Crê-se que terá composto a primeira ópera alemã, vários bailados e outras obras cénicas, porém esta música perdeu-se. As obras que se conhecem consistem sobretudo em composições sacras, datadas de 1619 até aos últimos anos da sua vida.

A Oratória de Natal, publicada como Historia der Geburt Jesu Christi (História do Nascimento de Jesus Cristo), SWV 435, em 1664, é uma obra de grandes proporções. Os seus trechos narrativos são compostos em recitativo bastante rápido sobre baixo contínuo, enquanto as cenas são tratadas separadamente com árias, coros e acompanhamento instrumental, em estilo concertato (do verbo italiano concertare = chegar a acordo, designa a prática de escrever partes distintas para vozes e instrumentos ou para combinações diferentes de umas ou de outros, ou seja, fazer dialogar vozes e instrumentos num todo harmonioso).

Esta obra é composta para vozes solistas (2 Sopranos, 3 Altos, 3 Tenores, 4 Baixos), coro a 4 vozes (SATB) e para os seguintes instrumentos: 2 violinos, 2 violetas, 2 flautas doce, 2 clarinetes, 2 trombones, fagote, viola da gamba e baixo contínuo.

O texto é quase exclusivamente retirado da Bíblia na tradução de Martinho Lutero, citando Lucas e Mateus, cuja narração bíblica é baseada em Lucas 2:1–21 e Mateus 2:1–23. O texto da conclusão é uma tradução da sequência natalina Grates nunc omnes (Gratidão a todos) de Johann Spangenberg (1545). O narrador é o Evangelista e as restantes personagens são os anjos, os pastores, os sábios, sacerdotes e escribas, Herodes, Maria, José e o menino, as quais aparecem em oito seções denominadas Intermedium (Interlúdio).

Segundo o musicólogo Michael Zwiebach, a obra "tem reviravoltas inesperadas que enfatizam palavras específicas e muda os centros tonais rapidamente para refletir eventos dramáticos." 

A Oratória de Natal foi provavelmente tocada pela primeira vez num serviço de Natal na capela da corte de Johann Georg II, Eleitor da Saxônia, em Dresden em 1660 (antes da sua publicação), uma vez que Schütz menciona o eleitor no longo título: "wie dieselbe auf Anordnung Johann Georgs des Anderen vocaliter und instrumentaliter in die Musik versotzet ist durch Heinrich Schütz" ([…] música para vozes e instrumentos por ordem de Johann Georg II).

Anterior
Anterior

À volta da cultura e da música, evocando Bento XVI.

Próximo
Próximo

Santa Maria dos Rochedos (1483-1486).