A Morada de Deus com os Homens.

Há 60 anos, no dia 22 de Setembro de 1963 as ruas de São Pedro da Cova, no Concelho de Gondomar, estavam tomadas por uma azáfama inusual. A noite tinha sido longa e na manhã desse domingo o cheiro do café, confecionado em grandes panelas e distribuído entre vizinhos, confundia-se com o perfume que exalavam as flores colocadas geometricamente pelos caminhos desta terra. Tudo era sinónimo de festa, de uma grande festa! A longa jornada tinha agora uma nova etapa… a nova Igreja está pronta para iniciar a sua nobre missão: «Ecce tabernaculum Dei cum hominibus».

De cunho neorromânico, a nova Igreja de São Pedro da Cova é um exemplar único no cenário da arquitetura religiosa portuguesa do século XX. É autor do projeto a Oficina ARS Arquitetos que tem na sua liderança os Arquitetos Fortunato Cabral, Morais Soares e Cunha Leão, responsáveis do risco da Igreja de Nossa Senhora de Fátima e do Mercado do Bom Sucesso, ambos no Porto.

A sua alta torre de trinta e seis metros levanta-se elegante por entre o casario que o cerca respirando certos ares do norte europeu. Encimada por uma cruz iluminada aparenta apontar aos homens a sua origem e meta, a Jerusalém Celeste. Quem se aproxima da sua fachada é recebido por uma imagem de São Pedro, um monólito de pedra de afife com cerca de quatro toneladas. Também ele aponta para o céu, com o olhar e com a mão direita como que a lembrar que a vida compensa se os valores mais altos imperarem: «Sursum corda».

Todo o povo de Deus desta porção de terra, marcada pelo passado sofrido das Minas de Carvão se empenhou para a edificação deste belo edifício. Ainda assim um rosto há que se destaca, o Pe. António Joaquim Alves das Neves, carinhosamente tratado como Dr. Neves. A sua sensibilidade para a arte como veículo de elevação do espírito está presente em toda a composição. Quem entra na Igreja percebe a sua luminosidade, quebrada apenas pelas cores inebriantes dos vitrais da bela rosácea ou do batistério.

Ao fundo, na Capela Mor, a tapeçaria de Armando Silva domina o cenário e situa-nos diante do Cordeiro Imolado, fonte de Salvação e de Vida Eterna! Na base da tapeçaria o deslumbrante Sacrário, peça em bronze da autoria de Irene Vilar, apresenta o grupo dos doze apóstolos. O colégio apostólico é representado todo unido, como que o guardião e transmissor do Tesouro do Pão da Vida. Apenas Judas Iscariotes é representado afastado do grupo, de costas voltado para o centro, desanimado… sem Ele a vida é ilusão.

A azulejaria é abundante e representa as redes de Pedro bem como as atividades desta terra. Onde se celebram os Mistérios Luminosos, está também representada a atividade das gentes desta terra… o mineiro e o lavrador.

De um conjunto tão abundante, é difícil destacar peças avulsas. A Arte abunda neste espaço. Não é uma arte abstrata, sem sentido nem horizonte… aqui Deus fala-nos pela beleza.

Só ama quem conhece, vale a visita.

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