Identidade cristã.

Neste Tempo de silêncio interior, em que contemplo a cruz, vendo com olhos de fé a Luz que ela nos trouxe, passou-me pela mão um texto do teólogo dos nossos dias, José António Pagola, uma voz sonante desta Igreja que todos formamos. Partilho convosco esse texto, na esperança que ajude quem o ler a viver melhor este tempo favorável.

"Para ser cristão, a coisa mais decisiva não são as coisas que uma pessoa acredita, mas que relação vive com Jesus. As crenças, geralmente, não mudam as nossas vidas. Pode-se acreditar que Deus existe, que Jesus ressuscitou e muitas outras coisas, mas não ser um bom cristão. É a adesão a Jesus e a convivência com Ele que nos pode transformar.

Nos Evangelhos pode ler-se uma cena que, tradicionalmente, passou a ser chamada de «transfiguração» de Jesus. Já não é possível reconstruir a experiência histórica que deu origem ao relato. Só sabemos que era um texto muito querido entre os primeiros cristãos, pois, entre outras coisas, os encorajava a acreditar apenas em Jesus.

A cena situa-se numa «montanha alta». Jesus está acompanhado por dois personagens lendários da história judaica: Moisés, representante da Lei, e Elias, o profeta mais querido da Galileia. Só Jesus aparece com o rosto transfigurado. Desde o interior de uma nuvem ouve-se uma voz: «Este é o meu filho querido. Escutai-O».

O importante não é acreditar em Moisés ou Elias, mas sim escutar Jesus e ouvir a sua voz, a do Filho amado. O mais decisivo não é acreditar na tradição ou nas instituições, mas sim centrar as nossas vidas em Jesus. Viver uma relação consciente e cada vez mais comprometida com Jesus Cristo. Só então se pode ouvir a sua voz no meio da vida, na tradição cristã e na Igreja.

Só esta comunhão crescente com Jesus vai transformando a nossa identidade e os nossos critérios, vai curando a nossa forma de ver a vida, libertando-nos de escravidões, vai fazendo crescer a nossa responsabilidade evangélica.

Desde Jesus podemos viver de forma diferente. As pessoas já não são simplesmente atraentes ou desagradáveis, interessantes ou desinteressantes. Os problemas não são assuntos de cada um. O mundo não é um campo de batalha onde cada um se defende como pode. Começa a doer-nos o sofrimento dos mais indefesos. Atrevemo-nos a trabalhar por um mundo um pouco mais humano. Podemos parecer-nos mais com Jesus."

Boa Quaresma!

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