Em que ponto está o caminho universal para a sinodalidade?

Repetiu-se, muitas vezes, que o método sinodal é o da escuta.

Mas o que é realmente este método?

Parto do versículo de Isaías 54, 2: «Alarga o espaço da tua tenda; estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas; fixa bem as tuas estacas».

Temos que alargar os nossos horizontes; envolver novas pessoas; não formar grupinhos….

Em geral, os leigos que estão a fazer este caminho estão contentes; mas, em muitos lugares é difícil convencer os pastores.

Todos devemos reavivar as tensões positivas das “cordas”, mantendo firmes as “estacas” da tradição, evitando a autorreferencialidade e referindo, sempre, os semelhantes a nós: a “casa” deve alargar-se!

A síntese apresentada pela Conferência Episcopal Italiana adota, quanto ao modo de escuta, o "método da conversa espiritual", que se baseia na confiança que cada batizado tem no ‘sensus fidei´ (sentido da fé) a partilhar.

Este método deve ser cuidadosamente preparado e é uma ajuda na passagem do eu ao nós.

 Prevê 3 fases, depois da invocação e abertura ao Espírito Santo:

1) todos devem falar, porque todos têm algo a dizer à Igreja;

2) deixarmo-nos questionar pelos outros, dando espaço à ressonância profunda; depois, voltamos a falar mas, exclusivamente, a partir do que os outros disseram. Hoje, isso é difícil, porque não nos sabemos escutar; 

3) constrói-se em conjunto, decidindo o que escolher como resultado do encontro.

Um documento de trabalho, a nível mundial, foi, recentemente, emanado e enviado às Igrejas locais para um diálogo interno: não é um texto definitivo, mas elaborado com algumas observações.

Por exemplo, a República Centro-Africana observa que esse método, de falar livremente, resultou na conversão de pessoas que estavam afastadas da Igreja. A Letónia considera que é a primeira vez que a Igreja pergunta a cada um de nós, leigos, o que pensamos, mesmo que isso não seja uma lei da Igreja!

Destaco alguns pontos:

1. Uma escuta que se torna acolhimento.

Escuto, especialmente, os que se sentem fora da Igreja: há muitas pessoas que não se sentem bem-vindas na tenda da Igreja (e não se trata de ser progressista ou tradicionalista!)

2. Irmãs e irmãos para a missão.

A Conferência Episcopal Portuguesa disse que é necessário rejeitar a diferença entre crentes e não crentes: deve haver "um transbordamento do dom". A Conferência Episcopal Indiana insiste no ecumenismo e no diálogo inter-religioso, onde a acção missionária é  mínima.

3. Comunhão, participação e corresponsabilidade.

As Conferências Episcopais da Argentina e da Eslováquia gostariam de facilitar a participação das mulheres, na vida da Igreja (mas este é um ponto presente nas sínteses de todo o mundo). Uma consideração comum é, também, o pedido de uma Igreja que seja mais próxima das pessoas, capaz de revitalizar a corresponsabilidade missionária, pouco sentida.

A Conferência Episcopal Italiana diz que precisamos de caminhar para uma Igreja inteiramente ministerial e não construída, predominantemente, à volta do ministério ordenado.

4. A sinodalidade toma forma.

As estruturas devem estar ao serviço: a Conferência Episcopal Espanhola fala de formação permanente.

5. Vida sinodal e liturgia.

As Conferências Episcopais de Burkina Faso e do Níger falam da oração como a força da comunidade. A França afirma que não é apenas missa, mas que se deve valorizar a piedade popular e simplificar a linguagem litúrgica, hoje incompreensível. Muitos afirmam que, em geral, as homilias não são nada incisivas.

Depois deste desabafo, sinto vontade de voltar ao que Card. Martini dizia: “Não nos preocupemos com os programas pastorais; não continuemos a lamentar-nos,  mas pensemos em perguntar-nos quais são os pontos de verdadeira alegria das nossas comunidades”.

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